O vento da modernidade também soprou sobre Cotia provocando muitas
transformações... Mas... O que está aparecendo é o despertar de uma juventude que caminha em direção oposta ao legado da velha sociedade que chega ao seu fim. Quer dizer, [já se foi a época] dos adeptos de maio de 1968 [revolução studantil anárquica], e de sua ideologia relativista do "politicamente correto". De agora em diante, essa juventude quer escrever uma
nova História.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Velhos sinos representando a Tradição

    A notícia no “Estado de São Paulo” de 13 de agosto pp., Sinos voltam a repicar nos Jardins, referia-se a restauração de sete sinos da Paróquia de Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, que voltaram a bimbalhar na tarde do domingo anterior.
     O que mais chama a atenção é o trabalho minucioso de recuperação dos sinos ter sido feito por dois jovens, ambos de 26 anos, especialistas na arte de produzir e recuperar sinos históricos. “O restaurador destaca como ponto alto da carreira o trabalho que conferiu nova vida ao conjunto de 61 sinos da Sé, no ano passado. Depois de cinco anos em silêncio, o maior carrilhão da América Latina voltou a soar em dezembro”.
     Nas grandes cidades, as torres das igrejas, que são o habitat natural dos sinos, foram sufocadas pelos gigantescos arranha-céus; as vozes dos sinos foram abafadas pela cacofonia dos motores e das buzinas.
     Pareceria que os sinos não têm mais voz e vez, mas eles continuam vivos! A maioria das pessoas não consegue identificar uma igreja sem a torre e a presença dos sinos é constante nos cartões de Páscoa e de Natal; as crianças identificam os sinos com a própria igreja.
*
     O sino é um instrumento de percussão e um idiofone, cuja forma é aproximadamente de um cone oco que ressoa ao ser golpeado; ele recebeu este nome do latim “signum”, isto é, “sinal”. Mas a sua forma e peso variaram muito durante os séculos; ele é feito geralmente de bronze e outros componentes, para que sua sonoridade chegue a perfeição. Fórmulas secretas, guardadas a sete chaves, passam de geração a geração pelas famílias construtoras (principalmente italianas, alemãs e portuguesas).
     Acredita-se que os mosteiros beneditinos foram os primeiros a utilizar o sino na Itália, nas Gálias e na Inglaterra, para convocar os monges às orações das horas litúrgicas. Outra fonte cita que já em 431 São Paulino de Nola o teria usado em sua catedral.
     O Papa Estevão II, no século VIII, fez construir uma torre na antiga Basílica de São Pedro, nela colocando três sinos. No século IX, o sino aparecia em todas as catedrais e nas igrejas paroquiais.
     Sendo "res sacrae", isto é, instrumento diretamente ligado ao culto, os sinos recebem uma benção própria, reservada ao Bispo; para homenagear determinados santos, seus nomes são gravados em alto relevo em sua forma cônica.
     Seguem algumas inscrições – em latim, língua que convém aos sinos – existentes em velhos e venerados sinos, testemunhas sonoras do cotidiano de cidades ou aldeias:
"Vox mea, vox vitae, voco vos ad sacra, venite" - A minha é a voz da vida que vos convida ao culto divino;
"Laudo Deum verum" - Louvo o Deus verdadeiro;
"Congrego clerum" - Reúno o clero;
"Defunctos ploro" - Choro os mortos;
"Nimbum fugo" - Afugento os temporais;
“Fulmina franfo" - Elimino os raios;
"Sabbata pango" - Alegro os feriados;
"Festa decoro" - Solenizo as festas;
"Excito lentos" - Acordo os preguiçosos.
 
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Palácio Nacl. de Mafra, Portugal
     O dia-a-dia da Cristandade era regulado pelo bimbalhar que, saindo do alto da torre da igreja, invadia os silêncios dos campos vizinhos, das aldeias e das cidades. Durante muito tempo o sino gozou de grande prestígio: soava os alarmes, os socorros, lamentava as pestes e acompanhava, pesaroso, os enterros.
     De acordo com o seu toque, conhecido de antemão pelo povo, o sino alertava para os incêndios, a proximidade dos vendavais, ou então a morte e o sepultamento de uma pessoa da cidade, o nascimento de uma criança, sendo o dobre diferente se fosse menino ou menina.
     O sino era uma forma perfeita de comunicação e o relógio do povoado: às 6 h, ao meio dia e às 18 h, ele lembrava o povo sobre a oração do Ângelus. Ecoando pelos vales, pelas planícies e colinas levavam sempre uma mensagem de Fé e de serenidade. Durante o tempo do Advento e, particularmente na Quaresma, os sinos emudeciam e a sua falta era sentida pelo povo.
     À Missa da meia-noite no Natal e na solene Vigília da Páscoa, livre do longo silêncio penitencial, no máximo do seu esplendor e brilho, o repicar festivo dos sinos inundava de alegria os corações de todos. No Domingo de Páscoa, os sinos anunciavam com alegria a celebração da Ressurreição de Cristo.
     Em países onde a religião era tolerada ou perseguida, em sinal de protesto e de auto-afirmação, os campanários se elevavam aos céus. Uma sã rivalidade havia para ver quem construía a torre mais alta e mais artística de toda a região.  
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Sineiro russo
     No Ocidente, o sino e o relógio iniciaram uma disputa para orientar e disciplinar a vida das comunidades. Com o tempo, o relógio venceu o sino...
     O sineiro era um faz-tudo dentro da igreja, quase sempre ensurdecido pelo reboar estrondoso dos sinos, e que era obrigado, pelo menos nas grandes catedrais, a pendurar-se numa ponta da corda para fazer aqueles colossos badalarem.
     Os alemães inventaram o relógio mecânico por volta de 1200, pois o braço do sineiro lhes parecia falho para atender a crescente labuta diária. Confiaram então tudo a um pêndulo, num maquinismo composto pelo motor, pelo balancim e pelo escapo, que determinava as obrigações rotineiras de todos, com a máxima certeza alcançada naquela época.
     A tecnologia moderna subiu às torres e aboliu o esforço humano na arte de tocar sinos... Os sinos hoje são eletrônicos e, ainda mais, programados: eles tocam como se mãos invisíveis de anjos os acionassem, enquanto os homens modernos se agitam e raramente prestam atenção neles.
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     Os carrilhões apareceram no século XV, na Flandres, quando os construtores de sinos, tendo aperfeiçoado a sua arte, conseguiram que cada sino reproduzisse um tom exato. Um carrilhão é formado por um teclado que controla um conjunto de sinos de tamanhos variados, e, consequentemente, de tons diversos. Os carrilhões são normalmente alojados em torres de igrejas ou conventos e são dos maiores instrumentos do mundo. A maior concentração de carrilhões antigos situa-se na Bélgica, Holanda  e nas regiões do norte da França, Alemanha e Polônia.

Sinos do Mosteiro de S Bento - SP

     O Mosteiro de São Bento, em São Paulo, continua a soar seu famoso carrilhão composto de seis sinos: São José, Sagrado Coração de Jesus, São Bento, São Miguel, Dolorosa e Cantabona. O Cantabona [canta coisas boas] pesa 5.500 kg e tem quase 2 m de altura.
     Em Cotia, o sino do Carmelo do Imaculado Coração de Maria nos eleva a um plano espiritual e nos faz pensar na perenidade de nossa Fé, no poder da oração, na serenidade das almas que praticam o bem.
     Amemos esses mensageiros celestes que, nos convocando à oração e dando o som do passado católico, nos comovem, nos alegram e nos enternecem.
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     Há um fato que me encheu de alegria quando li. O fato é sobre a Rússia czarista.
     Em geral, o primogênito do Czar nascia no Kremlin — hoje tão conspurcado [pelo comunismo]. E naquele recinto constituído por muitos palácios, igrejas, fortalezas, mosteiros etc. — é uma espécie de Vaticanozinho dos Czares — quando nascia o primogênito, o aviso era dado por um sino de uma igreja velhinha que lá havia, datada de não sei que século. Esse toque repercutia nos sinos majestosos do Kremlin, depois por todos os de Moscou. E, de proche en proche, por todos os sinos da Rússia.
     Que o ponto de partida fosse dado por este velho sininho representando uma tradição, e que tanta coisa forte, atual, nova, se dobrasse reverente diante dessa coisa ancestral, fraquinha, mas carregada de todos os valores da História, há nisto algo de simbólico, algo de uma realidade mais profunda, que se pode explicitar.
     Esta realidade é espiritual, e tem um sentido divino. Por isto este símbolo a nós nos enche de alegria. [...] O sino grande, tocando por ordem do sino pequeno, porque este representa algo de espiritual, que é a Tradição, é um símbolo do presente que obedece à continuidade histórica. É também um símbolo da matéria que obedece ao espírito.
     Enfim, há mil outras coisas que se poderiam dizer e que fazem parte da exuberância de simbolismo que é próprio de uma civilização como a concebida por nós, e que é completamente o contrário da civilização de alumínio, da matéria plástica, prática e pasteurizada, do mundo moderno.
                                                                                                            Plinio Corrêa de Oliveira
 

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