Dia da Independência
“Foi uma emancipação dentro da mesma família”
Luís Gastão de Orléans e
Bragança, herdeiro do trono brasileiro
Publicado em 07/09/2013 |
Yuri Al’Hanati
A independência do Brasil, em sete de
setembro de 1822, foi o desfecho lógico de uma extensa negociação de origens
econômicas. O grito do Ipiranga, cena emblemática e simbólica da história
brasileira, foi a alternativa encontrada por Dom Pedro I para permanecer no
poder ante o movimento insurgente por parte dos comerciantes brasileiros que,
subitamente, se viram na iminência de terem os portos fechados para negociações
exclusivas com a metrópole. “Não foi uma ruptura sangrenta, mas uma emancipação
dentro da mesma família, com todos os bons efeitos que isso pode trazer para
uma nova nação”, acredita o chefe da Casa Imperial, Dom Luís Gastão Maria José
Pio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança e Wittelsbach.
Ele é trineto de Dom Pedro II e atual
herdeiro do trono brasileiro, caso a monarquia fosse instaurada hoje no Brasil.
Nesta entrevista concedida por e-mail com
exclusividade à Gazeta do Povo, D. Luís fala sobre suas visões sobre a
independência do Brasil, a monarquia e o papel de seus herdeiros em uma
República democrática. Para Luís de Orléans e Bragança, monarquia é o regime
que melhor garante as três condições básicas para a existência e
desenvolvimento de uma Nação: unidade, estabilidade e continuidade. “Meu papel
— como o de todo Chefe de Casa não reinante — é o de preservar o rico legado de
nosso passado imperial, fazendo-o transitar de geração em geração para que se
mantenha vivo e conhecido entre os brasileiros”.
O Brasil foi o único país das Américas que, quando se tornou independente,
não se tornou uma república. Por que isso aconteceu e por que isso foi
importante para o país na época?
Essa diversidade de rumos esteve em boa
medida determinada pelo anterior curso dos domínios português e espanhol na
América. A atitude pífia do [espanhol] Rei Fernando VII face a Napoleão
insuflou os ambiciosos, conduzindo à ruptura com a Espanha e à adoção da forma
republicana de governo. Diferentemente de seu cunhado espanhol, o Príncipe
Regente de Portugal, futuro D. João VI, não se submeteu ao ditador,
transferindo a Corte e o governo real para o Brasil e impulsionando aqui uma
vigorosa transformação das instituições públicas. D. João VI gostava muito de
nossa terra, se tornara benquisto e aqui queria ficar, mas as cortes
portuguesas impuseram seu regresso a Portugal. Aconselhou ele então ao filho
primogênito D. Pedro, que aqui deixava como regente, a tomar a Coroa. A
independência brasileira foi assim: não uma ruptura sangrenta, mas uma
emancipação dentro da mesma família, com todos os bons efeitos que isso pode
trazer para uma nova Nação.
Por que a monarquia seria o melhor regime para o Brasil?
A monarquia é o regime que melhor
corresponde à boa ordem colocada por Deus na Criação, garantindo as três
condições básicas para a existência e desenvolvimento de uma Nação: unidade,
estabilidade e continuidade. Prevaleceu largamente ao longo da história dos
povos civilizados. Ano após ano os primeiros lugares nos índices de renda per
capita e do IDH são ocupados por monarquias. Durante o 2º Reinado, o Brasil foi
um dos países mais respeitados do mundo, com instituições sólidas, moeda
estável, crescimento acelerado e grande prestígio do Imperador D. Pedro II, que
chegou a ser árbitro de litígios entre potências europeias.
Qual o papel do senhor hoje enquanto chefe da Casa Imperial e herdeiro do
trono?
Meu papel — como o de todo Chefe de Casa não reinante — é o
de preservar o rico legado de nosso passado imperial, fazendo-o transitar de
geração em geração para que se mantenha vivo e conhecido entre os brasileiros,
alimentando, ademais, a apetência para o retorno da monarquia entre nós. A
formação da nova geração de príncipes brasileiros, meus sobrinhos, é assim um cuidado
constante.
Quem são os monarquistas brasileiros hoje?
No plebiscito de 1993, sobre regime e forma de governo,
apesar de termos contra a máquina de propaganda do Governo, 13% dos votos
válidos foram pela monarquia. Hoje não se encontra um brasileiro que em sã
consciência diga que a república deu certo. E há um número crescente de
brasileiros que veem a restauração do regime monárquico, que deu tão certo no
passado, como sendo uma grande alternativa para a crise moral que assola o
país.
Quais são as características de um bom
soberano?
A principal
característica de um bom soberano é saber encarnar as virtudes de seu povo,
sendo delas espelho e ao mesmo tempo favorecedor. Como um bom pai, o soberano
deve incentivar as qualidades de seus filhos, ampara-los em suas debilidades e
coibir os seus erros. Deve ser muito respeitoso das autonomias dos indivíduos e
dos grupos sociais e ao mesmo tempo um padrão inatacável de moralidade.
Por quais meios a monarquia poderia ser
implantada no Brasil? O senhor acha que este processo pode acontecer em breve?
Uma verdadeira monarquia não pode ser
implantada pelo golpe de força de um grupo, mas deve vir organicamente da
aspiração de conjunto da Nação. Aspirações dessas ocorrem na vida dos povos em
diferentes circunstâncias, o mais das vezes pela irremediável falência de uma
situação anterior. No Brasil de hoje há um profundo descontentamento,
patenteado aqui nas recentes e surpreendentes manifestações de rua, um grande
anseio por algo diferente, algo melhor, algo que já existiu e que perdemos...
Quando esse anseio se tornar majoritário, a monarquia — acabada expressão
política da civilização cristã — poderá ser restabelecida no Brasil de modo
estável e benfazejo. Quando isso se dará, só Deus Nosso Senhor o sabe, mas,
creio, bem antes do que poderia parecer à primeira vista.
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