No verão de 1912 morreu miseravelmente guilhotinado em Paris o soldado
Tisseau. Quer dizer, foi-lhe cortada a cabeça. Depois da sua sentença de morte,
escreveu na prisão algumas páginas dirigidas aos seus defensores. Ei-las
textuais, sem alteração alguma da sintaxe por vezes imperfeita:
Dirijo
estas linhas aos meus defensores que hão feito quanto puderam para me salvar;
delas se aproveitarão, se quiserem, para prevenirem e salvaguardarem.
Estas poucas linhas não têm outro fim além de fazer constar que se eu,
filho de honesta família de operários, caí tanto em baixo, não é senão por
efeito do ensino recebido na juventude.
Ensinaram-nos na escola que os pais tinham sobre seus filhos apenas uma
autoridade limitadíssima, que segundo as leis, eles não tinham o direito de
castigar os próprios filhos, e que o roubo praticado em prejuízo dos mesmos
pais não era um roubo e que a lei não podia punir-nos.
Sendo eu de um caráter já bastante inclinado ao mal, todas estas ideias
que ouvi emitir – que todos os homens devem ser iguais, que não devem existir
ricos –, não faziam senão excitar-me cada vez mais.
Daqui veio o meu primeiro crime, por causa do qual me mandaram para uma
daquelas casas de correção, que mais não são – ai! – que verdadeiras casas de
corrupção, e na qual devia passar longos anos de sofrimento, pois que o Diretor
desta casa em vez de fazer tudo quanto teria podido para reconduzir tantos
jovens como eu ao bom caminho, ao contrário, só nos fazia sentir todo o seu
desprezo.
A mínima falta era logo: “o pão seco, os ferros, o segredo” e aquele
diretor que devera ter sido para nós um pai de família apenas conhecia uma
palavra muito terna: “Ceder ou rebentar”.
Saí daquela casa muito doente, após um certo número de anos, durante os
quais só conheci os sofrimentos, com o ódio no coração por aquela sociedade que
era a causa de todos os meus males; sem ofício, abandonado aos meus próprios
instintos, e desgraçadamente como muitos homens, vim a sucumbir.
Mas o crime que me lançou fora da sociedade tornou-se para mim um bem,
pois que é nesta prisão de Mans – onde escrevo estas linhas – que encontrei um
padre que me ensinou o que é verdadeiramente a vida, porque confesso nunca
tê-la compreendido.
Desgraçadamente tais conselhos chegaram-me tarde demais, porque neste
momento a pena que sobre mim pesa porventura me impedirá de por em prática os
conselhos que me têm sido dados e que jurei seguir.
Oh! quisera que estas linhas pudessem servir de lição a muitos jovens
que, como eu, se deixam seduzir por ideias mentirosas que não cessam de lhes
repetir.
Quantos que, como eu, se deixam levar por estas ideias enganadoras, se
verão um dia, talvez, reduzidos ao desespero. Se devo morrer, morrerei como um
bravo, certo de que Deus, mais misericordioso que os homens, me perdoou já os
meus desvarios, e tenho a doce confiança de ir acolher-me junto Ele.
Mas o meu coração sangra por pensar nos meus pobres e queridos pais que
não se consolarão: oh!, por favor, ide vê-los e dizei-lhes toda a minha mágoa e
que o meu último pensamento será para eles.
Espero encontrá-los lá em cima, onde não cessarei de orar na esperança
de tornar a vê-los.
Estou sempre à espera da decisão que será
tomada a nosso respeito (Tisseau tinha um cúmplice que foi também
guilhotinado). Essa manhã ainda tive a alegria de ouvir Missa e de receber a Santa
Comunhão.
Fonte: “Novo manual do catequista” –
Mons. Tiuseppe Perardi. No www.adf.org.br
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