O vento da modernidade também soprou sobre Cotia provocando muitas
transformações... Mas... O que está aparecendo é o despertar de uma juventude que caminha em direção oposta ao legado da velha sociedade que chega ao seu fim. Quer dizer, [já se foi a época] dos adeptos de maio de 1968 [revolução studantil anárquica], e de sua ideologia relativista do "politicamente correto". De agora em diante, essa juventude quer escrever uma
nova História.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

As memórias de um condenado a morte

     No verão de 1912 morreu miseravelmente guilhotinado em Paris o soldado Tisseau. Quer dizer, foi-lhe cortada a cabeça. Depois da sua sentença de morte, escreveu na prisão algumas páginas dirigidas aos seus defensores. Ei-las textuais, sem alteração alguma da sintaxe por vezes imperfeita:
     Dirijo estas linhas aos meus defensores que hão feito quanto puderam para me salvar; delas se aproveitarão, se quiserem, para prevenirem e salvaguardarem.
     Estas poucas linhas não têm outro fim além de fazer constar que se eu, filho de honesta família de operários, caí tanto em baixo, não é senão por efeito do ensino recebido na juventude.
     Ensinaram-nos na escola que os pais tinham sobre seus filhos apenas uma autoridade limitadíssima, que segundo as leis, eles não tinham o direito de castigar os próprios filhos, e que o roubo praticado em prejuízo dos mesmos pais não era um roubo e que a lei não podia punir-nos.
     Sendo eu de um caráter já bastante inclinado ao mal, todas estas ideias que ouvi emitir – que todos os homens devem ser iguais, que não devem existir ricos –, não faziam senão excitar-me cada vez mais.
     Daqui veio o meu primeiro crime, por causa do qual me mandaram para uma daquelas casas de correção, que mais não são – ai! – que verdadeiras casas de corrupção, e na qual devia passar longos anos de sofrimento, pois que o Diretor desta casa em vez de fazer tudo quanto teria podido para reconduzir tantos jovens como eu ao bom caminho, ao contrário, só nos fazia sentir todo o seu desprezo.
     A mínima falta era logo: “o pão seco, os ferros, o segredo” e aquele diretor que devera ter sido para nós um pai de família apenas conhecia uma palavra muito terna: “Ceder ou rebentar”.
     Saí daquela casa muito doente, após um certo número de anos, durante os quais só conheci os sofrimentos, com o ódio no coração por aquela sociedade que era a causa de todos os meus males; sem ofício, abandonado aos meus próprios instintos, e desgraçadamente como muitos homens, vim a sucumbir.
     Mas o crime que me lançou fora da sociedade tornou-se para mim um bem, pois que é nesta prisão de Mans – onde escrevo estas linhas – que encontrei um padre que me ensinou o que é verdadeiramente a vida, porque confesso nunca tê-la compreendido.
     Desgraçadamente tais conselhos chegaram-me tarde demais, porque neste momento a pena que sobre mim pesa porventura me impedirá de por em prática os conselhos que me têm sido dados e que jurei seguir.
     Oh! quisera que estas linhas pudessem servir de lição a muitos jovens que, como eu, se deixam seduzir por ideias mentirosas que não cessam de lhes repetir.
     Quantos que, como eu, se deixam levar por estas ideias enganadoras, se verão um dia, talvez, reduzidos ao desespero. Se devo morrer, morrerei como um bravo, certo de que Deus, mais misericordioso que os homens, me perdoou já os meus desvarios, e tenho a doce confiança de ir acolher-me junto Ele.
     Mas o meu coração sangra por pensar nos meus pobres e queridos pais que não se consolarão: oh!, por favor, ide vê-los e dizei-lhes toda a minha mágoa e que o meu último pensamento será para eles.
     Espero encontrá-los lá em cima, onde não cessarei de orar na esperança de tornar a vê-los.
     Estou sempre à espera da decisão que será tomada a nosso respeito (Tisseau tinha um cúmplice que foi também guilhotinado). Essa manhã ainda tive a alegria de ouvir Missa e de receber a Santa Comunhão.
 
Fonte: “Novo manual do catequista” – Mons. Tiuseppe Perardi. No www.adf.org.br

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