O vento da modernidade também soprou sobre Cotia provocando muitas
transformações... Mas... O que está aparecendo é o despertar de uma juventude que caminha em direção oposta ao legado da velha sociedade que chega ao seu fim. Quer dizer, [já se foi a época] dos adeptos de maio de 1968 [revolução studantil anárquica], e de sua ideologia relativista do "politicamente correto". De agora em diante, essa juventude quer escrever uma
nova História.


sábado, 30 de junho de 2012

Espelhos e “o Espelho”

     Na cultura grega antiga encontramos a figura mitológica de Narciso, rapaz frívolo que se apaixonou por seu próprio reflexo na água, julgou-se um deus, deitou-se junto à margem e definhou se contemplando. Ele se tornou o símbolo da vaidade e da insensibilidade, pois rejeitava todo afeto que não fosse dele mesmo.
     Provavelmente este mito indique que a superfície da água inspirou o fabrico do primeiro espelho. Entretanto, o espelho, do latim speculum, não foi e nem será sempre um simples acessório da vaidade, pois ele revela importantes princípios da Física, integra o funcionamento de máquinas e pode ser complemento de decoração.
     Os primeiros vestígios da existência de espelhos remontam ao quinto milênio a.C. Nos despojos da civilização Badariana, no Egito, junto ao Rio Nilo, foram encontrados espelhos de cobre usados pelo homem primitivo. Posteriormente foram construídos espelhos de prata, que é boa refletora. Mas este material escurece em contato com a atmosfera e precisa ser limpo e trabalhado com frequência. Além disso, ainda não refletiam a imagem com qualidade.
     Na Idade Média, o homem dominou as técnicas de fabricação de vidros; foram criados os vitrais magníficos que, atravessados pela luz, criavam uma explosão de cores. E o espelho se tornou mais nítido, pois em Veneza alguém teve a ideia de colar uma fina camada de metal num vidro, revelando as feições ou os objetos colocados diante dele. Esta chapa de metal fazia com que os raios refletissem pelo vidro projetando a imagem e não oxidava porque era protegida por este vidro. Portanto, Veneza foi a pátria dos artesãos que tinham a técnica da fabricação dos espelhos. Mas os espelhos eram muito caros e poucos podiam tê-los.
     No século XVII, Luis XIV construiu o esplêndido Castelo de Versailles. Desejando embelezá-lo com uma galeria de espelhos, designou um de seus ministros para convencer os artesãos venezianos a ajudá-lo neste projeto. E eis que surge a famosa Galeria dos Espelhos!
     Graças ao seu brilho, os espelhos foram considerados verdadeiras joias e podiam ser encontrados apenas nos castelos, significando, assim, um sinal de nobreza.
     Em 1835, o químico alemão Justus von Liebig descobriu o processo químico de formação de camadas metálicas de prata. E com a Revolução Industrial, a produção passou a ser feita em grande escala e os custos de aquisição diminuíram tornando o espelho um artigo popular no inicio do século XX.
     Os espelhos hoje também são usados para explorar questões sobre percepção e cognição em seres humanos e em outras espécies com capacidades neurológicas.
     Há milênios que o espelho fascina as pessoas. Ele é “como pedaços de sonhos, imagens extremamente reais e profundamente falsas, que revelam as verdades que talvez não se queira enxergar”.
     E neste século de um hedonismo exacerbado ele toma características assustadoras, pois ele reflete uma vaidade sem limites e um egoísmo profundamente enraizado. Os valores falsos tomam lugar dos verdadeiros, a beleza física é colocada acima dos valores morais e espirituais.
     Como Narciso, a Humanidade, apaixonada por sua “beleza”, está se considerando um “deus” que dita suas próprias normas, desprezando os princípios eternos revelados pelo Deus verdadeiro. E, contemplando-se inebriada, vai definhando a olhos vistos... Até que Nossa Senhora intervenha...
***
     Este blog passou a refletir sobre o espelho após uma conversa no Carmelo de Cotia, em que foram lembrados os textos de Santa Clara em que ela recomenda que se olhe dentro do espelho "todos os dias", "sem cessar".
     A nossa dúvida era: o que “ver” no espelho, já que ao olharmos vemos nossas próprias feições? O que Santa Clara vê no espelho não é ela mesma, mas sim o Sagrado Coração de Jesus, o Divino Espelho em que devemos refletir, isto é, meditar e imitar. É exatamente o que o mundo moderno não faz! É o que as pessoas não querem ver refletido no “seu espelho”, pois isto exige conversão, penitência, oração.
     Santa Clara lutou por mais de quarenta anos para responder fielmente à própria vocação e manter viva a proposta inicial. Peçamos a ela, neste último dia do mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, que como Nossa Senhora sejamos fieis a vontade de Deus.

Textos de Santa Clara sobre o espelho:
     "Jesus é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o Espelho sem mancha. Olhe dentro desse Espelho todos os dias, esposa de Jesus Cristo e espelhe nEle o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente. Preste atenção no princípio do Espelho: a pobreza daquele que foi posto no presépio! No meio do Espelho considere a humildade, a bem-aventurada pobreza, as fadigas e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E no fim do Espelho, contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer a morte mais vergonhosa". (carta 1253)
     “Olha neste Espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelha nEle, sem cessar, tua face, para assim te adornares toda, tanto interna quanto externamente, vestida e cercada de belezas, vestida também com as flores e o manto de todas as virtudes, como convém, filha e esposa caríssima do Rei Supremo. Neste Espelho, porém, refulge a sagrada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, tal como poderás contemplar por todo o Espelho com a graça de Deus”.

Galeria dos Espelhos, Castelo de Versailles

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